Amigos
Como o Abrame tornou público mais uma das suas divagações de análise espiritual aproveito a oportunidade para transcrever mais um texto a que ele chamou ” Mandamentos e Tradições “.
Ditos de Jesus
Sempre, em todos os tempos, vieram ao mundo seres espirituais em missão de ajuda à humanidade para que esta pudesse encontrar caminhos que permitissem desenvolver com maior brevidade a sua evolução.
Para além de outros avatares também Moisés, os profetas, Jesus e os apóstolos, nas suas missões de ajuda, estabeleceram à humanidade condutas de comportamento justas e harmoniosas, em face do lento evoluir do homem, em conformidade com a espiritualidade alcançada pela sua alma naquele momento.
Mas os homens, em suas várias interpretações, foram aqui, ali e acolá adaptando os ensinamentos recebidos através do intelecto de acordo com os seus interesses, significados próprios e adaptações à sua vida do dia-a-dia de vaidade e de orgulho religioso, transformando-os em tradições convenientes à sua imagem e semelhança, ficando no esquecimento os valores divinos.
Cumprindo a tradição, o homem foi esquecendo os valores profundos do religar do templo, preso a dogmas e mais preceitos humanos, exercendo o culto exterior, deixando assim desse modo o interior cheio de rapina e podridão.
Por esse motivo diz Jesus: “sois semelhantes a sepulcros caiadas por fora e podres por dentro”. (Mateus 23-27) e, deste modo, tudo serve e vai servindo ainda hoje para contradizer os valores anunciados por Jesus, para justificar as consciências daqueles que servindo-se da mentira e do engano, puxam a brasa às suas conveniências.
Comer o pão sem lavar as mãos representa, no seu entender, um grande pecado, que grande ofensa a deus! Tal como hoje, não se chama pecado comer o pão do suor alheio, mas comê-lo sem lavar as mãos é crime de bradar aos céus.
A tradição domina; comer à mesa da comunhão humana bem apetrechada e suculenta com as mãos lavadas e cheirosas de desinfectantes, é ter a certeza de que dali se sai limpo de pecado.
Não é que se deva comer sem lavar as mãos. Por uma questão de higiene é absolutamente aceitável, mas até ser isso um conceito divino a nível de pecado é menosprezar a inteligência que deus nos deu.
A tradição assim manda. Tratam-se dos templos de pedra com adornos, flores e passadeiras, num esmero sofisticado, num fausto impressionante, com pobres cada vez mais pobres, enfermos que sofrem e desprotegidos que choram.
Para isso ninguém olhou como causa de grande pecado do egoísmo, produto da ignorância espiritual do homem.
Desde que tudo brilhe, pelo requinte e riqueza e hajam sinos e música, dando vida barulhenta ao culto exterior espectacular, para aderência de adeptos, esquecem-se as misérias humanas e o ensinamento de Jesus ao dizer-nos: “que o reino dos céus está dentro do homem.”
Cumprida a tradição, ficam os momentos de prazer e de satisfação da festa participada que subtraem os valores espirituais do mandamento.
O mandamento é de deus e deus não se vê porque é espírito, segundo nos disse Jesus. A tradição é dos homens, e por isso a tratam com desvelo.
Não será coerente que numa humanidade adulta, consciente do seu objectivo espiritual, os proventos disponíveis devessem ser canalizados para lares de terceira idade, para crianças órfãs e desvalidos, bem como assim para a construção de hospitais, escolas e bibliotecas, etc. Onde o homem pudesse aprender e, por si só, ascender à compreensão do ser?
Pois será! Mas se o dinheiro fosse para isso, como se fomentariam e financiariam as guerras, como se poderia espalhar, pelo mundo fora, a droga leve e pesada, que degrada o homem e é motivo de tanta miséria? Como se poderia, sem dinheiro, espectaculizar as grandes cerimónias de faustos exteriores das diversas espiritualidades mundiais?
Tudo isto em benefício apenas de alguns, não obstante haver muitos homens e mulheres de boa fé, trabalhando nesse sentido, pensando estar a contribuir para o bem de seus irmãos.
Jesus alertou-nos para termos cuidado com os falsos profetas.
O mundo, no tempo de Jesus, não difere do nosso na observância destes conceitos.
Não compreendendo a mensagem espiritual porque impeditiva dos vários interesses em jogo, usa-se e abusa-se através de tudo que possa dar prazer e fomente o poder do ter.
Em todas as classes sociais, sem excepção, a perversão de carácter salienta-se de maneira tão sofisticada, que é preciso andarmos no mundo bem atentos e cautelosamente despercebidos, para se poder fazer alguma coisa.
A lei implantada é a de salve-se quem puder, pois em qualquer actividade o homem se confronta com outros homens que para atingirem os seus objectivos, não olham a meios.
Como as leis divinas têm um outro fundamento em que vigora o amar a deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, há que ignorá-las porque não servem ao mundo de competição actual.
Fariseus anónimos surgem-nos de todos os lados com perguntas insidiosas, escribas pervertidos na busca de sensacionalidade desnaturam a missão da imprensa, falsos profetas e obreiros fraudulentos especulam com as coisas mais sérias, não tendo em conta o sacrifício daqueles nossos irmãos que, em missão de solidariedade e fraternidade, vieram ao mundo, no anseio de elevar o nível de conhecimento espiritual da humanidade a fim de evoluir para um estado de fraternidade tendo como princípio a doutrina crística do amor a deus e ao próximo.
Mas quando surgem os festejos, espectáculos de tradição religiosa, lá estão eles, todos pressurosos, engordando seus proventos mercantilmente.
Foi exactamente por isso que Jesus, entrando no templo e deparando-se com aquele negócio infame da venda de pombos destinados à prática de sacrifícios e câmbio de dinheiro, não pôde conter a sua indignação, e, exaltando-se, volteou com energia sobre a cabeça uma dobra de cordas, espalhando assim o caos com o derrube de mesas, libertando animais e provocando a queda das moedas por todo o pavimento.
Jesus bem compreendeu a sinuosidade daquelas mentes dominadas pelo príncipe deste mundo quando disse: ” este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. ” (seg. Mateus 15,8).
A misericórdia, salvo raras excepções, não mais alimenta os corações e a fé, por assim ter deixado de aquecer as almas com a sua chama vivificadora, porque a palavra divina foi invalidada por causa de interpretações e conceitos tradicionais.
Os profundos ensinamentos de Jesus estão envolvidos na neblina cerrada dos interesses mundanos que, baseados nos preceitos deteriorados, consagraram a tradição religiosa servindo os interesses egoístas e olvidando o sentido profundo de desenvolver em nós a capacidade de amar todos os seres viventes como manifestação divina, a exemplo do que o espírito ensinou a Abraão, a Moisés e que Jesus tão bem nos transmitiu.
Dir-se-à! Muita coisa se tem feito em benefício dos mais desfavorecidos, que não têm pão para a boca e tecto para dormir.
É verdade que sim, e devemos honrar e exaltar as excepções porque é um dos deveres de honestidade e de amor por quem sofre. Mas não se pode, no entanto, esquecer a reciprocidade monetária, pois que, de uma maneira geral, só servem àqueles que podem pagar ou têm bens para doar.
Tenhamos perseverança, porque nada se perde. Tudo tem uma razão de ser e a justiça divina é bem infalível, visto tudo estar previsto com perfeição na creação.
Quando o sol se esconde no horizonte, o planeta é envolvido em escuridão, tudo lembra caos. Mas, mais adiante, surge a alvorada e o mesmo sol ilumina o mundo e dá-lhe vida.
A uma época de miséria física e moral, sucede outra de fartura e de bem estar, assim como às seis vacas gordas, sucederam as magras, e tal como josé assim interpretou no sonho do faraó, as espigas bem gradas vieram substituir as deterioradas.
Segundo o que está escrito, estão chegados os tempos da colheita, e para isso haverá a separação natural do trigo do joio.
A uma época de provação sucederá uma de regeneração. Sem qualquer dúvida, cá estaremos todos, uns e outros, para ver e viver.
E tudo isto com base em mandamentos/tradição.
São os dez mandamentos trazidos por Moisés do monte Sinai, atribuídos a mensagem directa de deus, que visa a ética.
Moisés tinha necessidade de leis morais para conter as negatividades daquele povo judaico que, por analogia, se pode atribuir à humanidade em geral em termos de imoralidade, de possessão e de adoração de falsos deuses, a fim de que os pudesse conduzir a uma existência de valores superiores.
São conceitos que não foram interiorizados espiritualmente para modificação do eu inferior, mas sim observados no rigor do comportamento exterior, de tal forma drásticos, que levava ao extremo do apedrejamento até à morte do infractor.
Era a lei de talião, que interpretavam de acordo com as suas conveniências, em cuja sagacidade e hipocrisia eram peritos. E ainda hoje assim é, visto não haver grande diferença da actuação do intelecto, ao serviço do ego humano.
E ainda hoje existe na humanidade, para nossa vergonha, a pena de morte.
Depois de séculos de ignorância, surge-nos em determinado tempo, Jesus, o arauto do amor, e porque não vindo revogar a lei ou os profetas, mas levá-los à perfeição, explica ao homem que deus é amor e que só através do perdão o ser se redime, na compreensão de que somos todos irmãos e que a lei abrange não só um povo – o povo de Israel – mas a humanidade toda.
E diz-nos, buscando o que estava escrito há séculos: ” amarás o senhor teu deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo.”
Para que isto se possa conseguir é necessário que o homem se consciencialize, cumprindo a tríade dos deveres indispensáveis, fazendo deles a sua ética.
1º para com deus
2º para consigo mesmo
3º para com o próximo
Nisto resumiu Jesus a lei e os profetas.
Sendo deus o autor da nossa existência, o nosso verdadeiro pai, devemo-nos dedicar primeiramente a deus, com todos os nossos haveres, a nossa própria vida.
Os deveres do homem estão em relação com o seu grau de entendimento, com as suas aptidões físicas, intelectuais e psíquicas. É preciso que se instrua em espírito e verdade porque lá está o ensinamento que manda que é preciso que em primeiro lugar procures as coisas do espírito.
Ninguém pode dar o que não tem, mas é fora de dúvida que devemos dar a deus tudo o que temos, pois, verdadeiramente, nada é nosso porque tudo o que temos foi-nos outorgado por ele como merecimento ou teste e sempre que damos algo a qualquer ser vivente, o estamos a fazer ao próprio senhor de tudo.
É do cumprimento desses deveres em consciência que começa a felicidade.
Satisfeitos os deveres que temos para com deus, ocorre-nos tratar daqueles que se relacionam com a nossa própria individualidade. E essas obrigações são de natureza material, intelectual e espiritual.
O homem vem aos mundos da forma para, em contacto com a matéria, progredir e esse progresso depende do bom emprego que possa fazer do tempo reencarnatório para zelar e proteger o seu corpo, proporcionando-lhe a natural manutenção de saúde e cultivar a alma, que é sua real individualidade, sem detrimento um do outro.
Pela mesma maneira, lhe cumpre fazer para com o seu próximo.
Próximo é aquele que se aproxima de nós, seja em corpo material ou espiritual.
Há próximos que estão longe de nós estando tão perto e próximos que estão tão perto estando longe.
No âmbito da alma, age a lei da similaridade.
No terreno da matéria, a lei da atracção.
Os principais próximos são aqueles que nos estão ligados pela lei da afinidade psíquica.
O homem que cumpre o seu dever, a nada mais fica obrigado. Quando o homem faz o que pode, deus faz por ele o que ele, por si mesmo, não pode fazer.
Por isso nos diz Jesus: ” as obras que eu faço não sou eu que as faço mas o pai é que faz as obras, de mim mesmo eu nada posso fazer “. (João 14,10-12)
Feliz daquele que faz tudo o que pode e deve fazer, pois esse é o bom emprego do talento, que leva à aquisição de outros muitos talentos porque o retorno é sempre pródigo.
Pois três são os deveres indispensáveis do homem: para com deus. Para consigo mesmo e para com o próximo.
O chamado preceito consciencial é este: ama a deus, ama a ti mesmo, ama o teu próximo, instrui-te e procura também instruir os seres viventes que são teus irmãos, porque deus, nós e toda a creação são um.
Faz tudo isso com todo o teu entendimento, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e estarás com o pai do céu, como lhe chamou Jesus.
Este é o mandamento supremo que todo o homem deve consciencializar, recebendo-o do espírito de deus pois ele mostra-nos a genuinidade divina.
15-09-1980 Abrame
Do vosso amigo com sentimentos fraternos. Hermes