Buda

Buda nasceu no 8º dia da 2º (ou 4ª) lua do ano 621 a.C., em Lumbini perto da cidade da Kapilavastu, no Nepaz meridional, a uns 160km de Benares (hoje Várânasi), Índia, casou aos 16 anos com Gopa Yasodhara. Saiu do palácio de seus pais aos 29 anos logo depois do nascimento do seu único filho Rahula. Para procurar a razão do sofrimento, da dor e a verdade. Durante seis anos vagueou pelo vale do Ganges buscando o conhecimento. De início foi discípulo do sábio Alara Kalana, que lhe ensinou a meditação yogue, através do qual alcançou o estado mental “a região da percepção e não-percepção“. Não convencido dos ensinamentos de seu Mestre, Sidarta foi ter com o grande Uddaka Ramaputra, conseguindo chegar a um grau ainda mais elevado de concentração e percepção que, no entanto ainda não encontrara o que ele buscara.

Deixou o Mestre seguido de 5 companheiros e embrenhou-se pela floresta de Kruvilva em absoluto ascetismo, buscando o despertar espiritual através da mortificação do corpo.

Tendo chegado ao último grau de esgotamento, quase morrendo de fome, sentindo-se às portas da morte verificou que os sacrifícios não extinguem o desejo, que o conhecimento não se obtém com um organismo enfraquecido, que o sofrimento físico perturba a mente e por vezes incapacita-a de manter a tranquilidade necessária à meditação. Não satisfeito com as práticas de ascetismo, decidiu voltar a um modo de vida mais natural e seguir o seu caminho.

As circunstâncias compeliram-no a pensar por si mesmo e a procurar dentro do seu próprio ser a solução. Sem qualquer ajuda sobrenatural, confiando apenas na meditação, nos seus esforços, entrega e intuição, passou vários anos em meditação e passou a ver as coisas mais claras. Diz-se que então, ”Mara” deus dos prazeres, veio tentar Sidarta, fazendo tudo ao seu alcance para demovê-lo de seus propósitos, nada conseguindo. “Mara” é a tentação das paixões humanas, análogo ao “Satanás” bíblico, que representa a própria mente. Essas tentações eram de tal ordem que a própria mente projectou-lhe na sua frente a mulher com o filho a pedir-lhe que voltasse.

Finalmente compreendeu a Verdade, a natureza da vida e do Karma que a rege. Aos 35 anos, sentado à beira do rio Neranjara, perto de Gaya (actual Bihar), ao pé de uma figueira conhecida mais tarde como árvore de Bodhi ou Bo (árvore da Sabedoria), atingiu a Iluminação.

Pregou o seu primeiro sermão “O caminho do meio “ a um grupo de cinco ascetas, antigos companheiros seus, no parque das Gaselas em Isipatana (actualmente Saranath), perto de Benares.

Segundo um texto da antiga tradição Gautama Buda explicou “O caminho do meio “ da seguinte maneira:

“Há dois extremos, ó monges, que devem ser evitados por aqueles que renunciaram ao mundo. Quais são eles?

Um é a vida de prazeres, consagrado aos prazeres e à concupiscência, especialmente à sensualidade; essa vida é ignóbil, aviltante e estéril.

O outro extremo é a prática habitual do ascetismo, infligindo ao corpo uma vida de cruéis austeridades e penitências rigorosas, automortificações que são penosas, tristes, dolorosas e estéreis.

Há uma vida média que é a perfeição, ó monges, que evita estes dois extremos, isto é levar uma vida humana normal, porém refreando todas as tendências egoístas e todos os desejos que perturbam nossa mente; é o caminho que abre os olhos e dá compreensão, que leva à paz, à sabedoria e à plena iluminação, ao Nirvana, a Deus.”

A partir desse dia ficou conhecido como o Buda, o sábio, o Iluminado, Bhagavad (bem -Aventurado), Tathagata (aquele que encontrou a verdade), Arahant (liberto), etc.

Durante 45 anos ensinou o caminho a todas as classes de homens e mulheres, reis e camponeses, brâmanes (sacerdotes) e párias, mercadores e mendigos, religiosos e bandidos, sem fazer a menor distinção entre eles. Não reconhecia diferenças de castas ou grupos sociais: O caminho que pregava estava aberto a todos os homens e mulheres prontos a compreendê-lo e segui-lo. Foi venerado enquanto viveu, porém nunca proclamou sua divindade. Foi um homem, um homem extraordinário.

Faleceu aos 80 anos em Kusinara (actualmente Uttar Pradesh), não deixando nenhum sucessor, mas exortando os discípulos a observarem sua doutrina e disciplina como Mestres. O sistema moral e filosófico exposto por Gautama Buda o chamado Dhamma em pali ou Dharma em sânscrito, popularmente conhecido por Budismo.

Hoje o Budismo está difundido no Ceilão, Birmânia, Tailândia, Camboje, Zaos, Vietnan, Tibete, China, Japão, Mongólia, Coreia e muitos outros países.

De acordo com a tradição Budista, três importantes acontecimentos na vida de Sidarta Gautama ocorreram no dia da lua cheia de Vesak (mês de Maio): Seu nascimento, sua Iluminação e seu pensamento.

Festivais são realizados para comemorar esses acontecimentos conhecidos como celebrações de Vesak.

“EVITAR O MAL, FAZER O BEM, PURIFICAR A MENTE “

São estes os preceitos de todos os Budistas.

Buda nada escreveu; seus ensinamentos foram puramente verbais e ficaram na memória de seus discípulos que os transmitiram oralmente por repetição e recitação nos mosteiros da Índia; mais surgiram diversos tratados que constituem o cânone sagrado dos livros Budistas, conhecidos como Tipitaka em pali ou sânscrito.

Ananda era o discípulo predilecto do Buda e primo-irmão.

A divergência nas interpretações da doutrina do Mestre, deu origem a diferentes escolas que se agruparam em duas correntes principais. Assim, surgiu a Escola Theravada (escola dos anciãos), que se conservou fiel ao Budismo primitivo, considerando a forma ortodoxa do Budismo, não se deixando influenciar demais por tendências místicas.

Mais tarde formou-se outra escola. Os defensores desta nova corrente intitulavam-se a si mesmos Mahayana, ou grande veículo, em oposição à escola Theravada.

Os Mahayanas começaram a ser mais numerosos só a partir do ano 800 d.c., quando o Budismo começou a declinar definitivamente na Índia. Antes os Mahaynas e Theravadas viviam juntos nos mesmos mosteiros e durante muito tempo seguiram as mesmas regras do Vinaya (regras monásticas), como diz o relato de I-Tsing do ano 700:

Os adeptos do Theravada e do Mahayna praticaram o mesmo Vinaya, reconhecem as mesmas cinco categorias de erros, atêm-se às mesmas Quatro Nobres Verdades.

Os que veneram os Bodhisattvas e lêem os sutras Mahayana, chamam-se Mahayanas; os que não o fazem, chamam-se Theravadas ou Hinayanas. Por isso no Tibete, é usada a palavra Sravakayana, que significa “veículo dos discípulos”, em lugar de Hinayana.

A escola Theravada difundiu-se, desde as primeiras missões enviadas pelo rei Asoka Piyadasse, no Ceilão, 300 anos A.C. mais tarde, estendeu-se para a Birmânia, Tailândia, Camboja, Laos, Paquistão Oriental.

O Budismo Mahayana desenvolveu-se ao Norte da Índia, Tibete, e mais tarde, por volta do séc. V, na China, Coreia e posteriormente no Japão. No ano 520 D.C., o monge indiano Bodhidharma levou o budismo para a China, ficando aí conhecido pelo nome de Chan (termo chinês que corresponde em sânscrito a Dhyana). Da China passou à Coreia em 630 D.C., e para o Japão em 1200 D.C., sendo denominado respectivamente por Sun e Zen. No ano 700 D.C., vários monges budistas indianos, dentre os quais se destacam Santaraksita e Padmasambhava, levaram o budismo para o Tibete, onde fundaram diversos mosteiros -Viharas – que se tornaram rede de ensino da Doutrina de Gautama Buda, juntamente com a disciplina e prática Tântrica (teia) (antiga tradição de meditação). O budismo indiano foi completamente absorvido pelo Hinduísmo.

AS QUATRO NOBRES VERDADES

1ª A VERDADE DA EXISTÊNCIA DO SOFRIMENTO (impermanência-Amicca;insatisfatoriedade-Dukka; impessoalidade-Amtta)

O sofrimento existe. Sofre-se ao nascer, ao crescer, ao adoecer e ao morrer. Sofre quem está unido ao que repugna. Sofre quem se vê forçado a separar-se de quem ama. Sofre quem deseja o que não pode alcançar. Sofre quem se apega de qualquer forma a qualquer coisa!

I – NOBRE VERDADE

Os cinco agregados (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência) que chamamos um ”ser” um “indivíduo” ou “eu”, são apenas um rótulo que damos a esta combinação que é impermanente e em constante mudança. O Eu é um composto instável em contínuo movimento e que a todo o momento se modifica: o Eu dura o tempo exacto de uma combinação de elementos do plano psicofísico, pois, no instante seguinte já é outra a combinação existente. Por mais que analisemos o Eu, sob qualquer aspecto que possamos considerá-lo, sempre vamos encontrar a impermanência, e em nenhuma parte um lugar para qualquer coisa permanente.

Buda disse:

“O mundo é um fluxo contínuo e impermanente. É como um rio de montanha que vai longe e corre rápido, ininterruptamente, levando consigo tudo o que encontra no seu caminho, não deixando nunca, um momento, um instante, de correr. Assim também, ó brâmane, a vida humana assemelha-se a esse rio; é contínuo e impermanente”.

Quando uma coisa desaparece, condiciona o surgimento da seguinte em uma série de causas e efeitos contínuos, de onde se vê que não existe substância permanente. Porém quando os cinco agregados físicos e mentais, que são independentes, trabalham em conjunto, surge em nós uma formação mental, que dá a falsa ideia de um “ Eu “.

É fundamental compreender que os cinco agregados da existência surgem e passam ao mesmo tempo. Quando há o contacto entre a base interna e externa, não é que surge a sensação primeiro, depois a percepção, depois a consciência, elas surgem e passam ao mesmo tempo. Tudo aquilo que sentimos, ao mesmo tempo percebemos e ao mesmo tempo estamos conscientes de tudo aquilo que nós sentimos e percebemos.

OS DEZOITO ELEMENTOS PSICOFÍSICOS

Os dezoito elementos psicofísicos são constituídos pelas seis bases internas – olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente – pelas seis externas formas visíveis, sons, odores, sabores, objectos tangíveis, objectos da mente e pelos seis tipos de consciência: consciência visual, auditiva, olfactiva, gustativa, táctil, ou do corpo e mental. Esses dezoito elementos psicofísicos interligam-se e actuam de maneira ininterrupta.


II -SEGUNDA NOBRE VERDADE

A segunda nobre verdade é que o sofrimento provém da concupiscência. O mundo objectivo excita a sensação, e a sensação desperta o desejo com ânsia de imediata satisfação.

O desejo de viver para satisfazer os desejos da personalidade prende-nos nas redes do sofrimento. O prazer sensual é um acontecimento que resulta em dor.

A segunda nobre verdade é a que nos dá a possibilidade do conhecimento da causa ou origem do sofrimento (dukkha); da desarmonia entre o nosso eu ilusório e a realidade.

Não devemos considerar o desejo como sendo a 1ª causa: segundo o budismo não existe uma causa primeira; tudo é relativo e interdependente. Mesmo este desejo que é considerado como causa ou origem do sofrimento – (dukkha), depende em sua aparição de uma outra coisa, que é a sensação – (vedana); e o aparecimento da sensação depende, por sua vez, do contacto e, assim por diante, gira a roda da existência, designada pelo nome da lei da produção condicionada ou da origem interdependente.

Deste modo o desejo não é nem a 1ª, nem a única causa do aparecimento de dukkha, mas, sim, a causa imediata, a causa principal que nossa mente pode conceber.

Lembramos nesta síntese que o desejo tem por base a falsa ideia de um “eu” (eu pessoal), que surge da ignorância que mantém a nossa aparente personalidade. A palavra ”rede” compreende não somente o desejo e o apego dos prazeres dos sentidos, à riqueza e ao poder, como também às ideias, opiniões, teorias, concepções e crenças.

Segundo a análise feita por buda, todas as infelicidades, todos os conflitos do mundo, desde as pequenas discussões de família até as grandes guerras entre nações, têm as suas raízes nessa rede de desejo.

Os desejos apresentam-se sob as mais diferentes formas, a saber:

Desejo dos prazeres dos sentidos, Kama-Tanha
Desejo da autopreservação (existir e vir a ser), Bhava-tanha
Desejo de não existência (auto-aniquilação), Vibhana-tanha

1 – O desejo dos sentidos surge em conexão com um, ou mais, sentidos.

O prazer não é a sensação, nascida dos sentidos; uma pessoa pode ter prazer em uma sensação, ou pode ser indiferente a ela; portanto o prazer depende da atitude mental da pessoa, que varia com os condicionamentos de costumes da família, do país, religião, etc.

2 – Levado pela ilusão, o homem se delicía nos prazeres dos sentidos e no facto de sua existência – “eu existo” ou “minha existência” conceitua em ver as coisas como “minhas”.

Pela ilusão ele pensa:

“O corpo é meu”, “minha sensação”, “meu pensamento”, e não vê que a ilusão desta existência egoísta é sofrimento. Pela ignorância tem aversão a destruir os pensamentos do “eu”e “meu”; só reconhece que o desejo é sofrimento (insatisfatoriedade), quando vê que também é Impermanência e Impessoalidade.

3 – Desejo de aniquilamento.

Apenas confirma a existência do “eu”, pois é baseado na ilusão da existência de um “eu” e “meu”, ou pessoa que será aniquilada após a morte. Este desejo jamais leva à cessação da existência, pois para conseguir isto, torna-se necessário seguir um treino especial, isto é trilhar a Nobre Senda Óctupla, que veremos adiante.

São quatro os elementos que sustentam a existência e continuidade dos seres.

Nutrimento material comum.
Elemento de contacto dos órgãos dos sentidos, incluindo nosso órgão mental com o mundo exterior. (6 bases internas e externas)
Elemento da consciência.
Elemento da volição mental ou vontade. A volição mental, que é dos elementos mais fortes, pois engloba a vontade de viver, de existir, de continuar mais e mais.

Segundo Budismo, o ser é apenas uma combinação de forças ou energias físicas e mentais em fluxo constante. O que chamamos de morte, é somente a parada completa do funcionamento do corpo físico. Mas a vontade, o desejo, a rede de existir, de continuar, de vir a ser constituem a maior força existente que anima todas as vidas, todas as existências, o mundo inteiro. Essa força não se detém com a morte, continua manifestando-se sob outra forma, produzindo uma nova vida chamada renascimento.

Se a morte fosse o fim da causalidade, isto é, das causas e efeitos que caracterizam a vida do eu, a morte se confundiria com a libertação. Assim os termos “rede”, “desejo”, “volição” e “carma”, têm todos o mesmo sentido. Eles significam o desejo, a vontade de ser, de existir, de crescer cada vez mais, de acumular sem cessar. Esta é a causa do aparecimento do sofrimento – Dukkha. Esse desejo se encontra no agregado das formações mentais, que é um dos cinco agregados que constituem um “ser”. Portanto a causa, o germe, o início do aparecimento do sofrimento encontra-se na própria mente do indivíduo que sofre, ainda que a causa pareça vir do exterior.

“Tudo que tem por natureza surgir, da mesma forma, tem em si mesmo a natureza de se manifestar, possui também em si a natureza, o germe de sua cessação, de sua destruição.”

Assim Dukkha (cinco agregados) possui em si mesmo a natureza de sua própria aparição, portanto da sua própria cessação ou destruição.

KARMA – Podemos admitir que todos os sofrimentos são causados pelo desejo egoísta, o que é fácil compreender. Mas como esse desejo, essa “rede” pode produzir a re-existência e o eterno vir-a-ser? Para isto é necessário compreender o aspecto filosófico da teoria do Karma e do Renascimento, que constitui um dos princípios fundamentais da doutrina Budista.

A palavra Karma (hali:karma) significa acção. Mas na teoria Budista, karma tem um sentido específico: expressa únicamente a acção volitiva, boa ou má, consciente ou inconsciente. Cada acção volitiva produz seus efeitos, resultados ou frutos. Um bom Carma, ou uma boa acção (Kusala), produz bons efeitos; um mau Karma, ou uma boa acção (Kusala), produz bons efeitos; um mau Carma (Akusla), ou má acção consequentemente, produzirá maus efeitos.

No Budismo, a teoria do karma é uma teoria de causas e efeitos, de acção e de reacção. Pela volição, o homem age com o corpo, a palavra e a mente. Os desejos, geram acções; as acções produzem resultados; os resultados trazem novos desejos,e assim sucessivamente.

O que é difícil de se compreender na teoria Kármica, para a maioria das pessoas, é como os efeitos de uma acção volitiva podem manifestar-se, mesmo em uma vida póstuma. O karma abrange tanto a acção passada como a presente.

Portanto, num sentido, somos o resultado do que fomos e seremos o resultado do que somos. O presente, sem dúvida, é o resultado do passado e a origem do futuro, mas o presente não é sempre um verdadeiro índice, simultâneamente do passado ou do futuro, tão intrincada é a lei do karma. Conforme semeamos, colhemos nesta vida, ou num futuro nascimento. As nossas acções passadas, cujos efeitos, chamamos, hoje, o nosso destino, influenciam o nosso presente, mas possuimos livre arbítrio completo e total, plena liberdade de acção.

Mas o livre arbítrio condiciona o futuro.

Este processo, energia mental que anima os seres vivos, é inseparável do processo de renascimento, porque o renascimento não é a reencarnação de uma “alma” depois da morte,porém, mais precisamente, a continuação da corrente de causa e efeito, de uma vida para outra. Nada há no Universo que não esteja sujeito a mudar; assim, não hà entidade estática que possa ser chamada “alma”, na aceitação geral deste termo. Esta ideia não é peculiar ao Budismo, pois foi conhecida pelos filósofos desde o tempo de Heráclito, até aos psicólogos e neurologistas de nossos dias; mas foi deixado por Buda, por meio de sua iluminada sabedoria, ao descobrir como isto podia ser e ainda perceber que esse fluxo ou alma é , de facto, a base de um renascimento contínuo. Se os seres existiram anteriormente, porque não se recordam de suas vidas passadas? A teoria budista diz que: Nossa memória mesmo nesta vida é muito limitada. O incidente da morte e o intervalo entre a concepção e o parto, afastam a memória de todos os elos das experiências passadas. São conhecidos casos de crianças-prodígios que conservam talentos de uma vida passada tanto em música, matemática, como em outros sectores. Existe outra resposta razoável, além de que o prodígio se deva á memória de existências anteriores?

O que chamamos vida, já vimos, é a combinação dos cinco agregados, uma combinação de energias fisícas e mentais que mudam incessantemente. “Quando os agregados aparecem, declinam e morrem, bhikkhus, a cada instante vós nasceis, declinais e morreis”. Consequentemente, durante a vida nascemos e morremos a cada instante, no entanto continuamos a existir. É como a chama de uma vela, que não é sempre a mesma, nem outra.

Quando o corpo fisíco não é mais capaz de funcionar, as energias mentais não morrem com ele, mas continuam a se manifestar sob outra forma que nós chamamos uma outra vida, persistindo o impulso para prosseguir na luta para uma outra existência. Por exemplo: uma criança cresce até chegar a ser um homem 60 anos.É claro que esse homem não é o mesmo que a criança nascida hà 60 atrás, porém não é outra pessoa, apesar das alterações fisiológicas, intelectuais e morais.

Do mesmo modo, um ser que aqui morre e lá renasce não é o mesmo e não é outro, mas sim, uma continuidade, uma sequência. A diferença entre a vida e a morte consiste apenas num momento de pensamento.O último momento de consciência, nesta vida, constitui e determina a natureza de um novo elo-renascimento da consciência – chamado vida seguinte que, na realidade, é uma sequência pertencente á mesma série. A energia mental produzida no passado, em combinação com o processo biológico, forma um novo ser sensível. Da mesma maneira, na génese dos sistemas do mundo, a totalidade do pensamento-energia dos seres provindos do passado, impulsiona a substância física do Universo para trazer um novo ciclo de evolução. Portanto, enquanto existir volição, desejo, o ciclo da continuidade que motiva repetidos nascimentos e mortes continuará.

As nossas acções não são perdidas, mesmo depois da morte. Após a dissolução do corpo, nossa atuação continuará produzindo.

Buda: “Isto, ó disciplos, não é nosso corpo, nem o corpo de outros; é preciso considerá-lo como obra do passado, tendo tomado forma, realizado pelo pensamento, tornado palpável” (Samyutta Nikaya) .

A causa gerada em nossa vida, como parte que é da causa universal, continua produzindo seus frutos mesmo após a desintegração do corpo. Em consequência da causa gerada no transcurso de uma existência, um novo ser renascerá futuramente em qualquer parte para continuação desta causa. Um novo ser, que é novo apenas num certo sentido, mas que é o mesmo no sentido cármico, exactamente como o jovem que, saindo de uma universidade com o título de doutor, num certo sentido, em relação à criança que vinte anos antes entrara nessa escola, é um outro ser, mas que no sentido da causa é, no entanto, o mesmo indivíduo. A identidade da personalidade é dada pela continuidade; é uma continuidade semelhante áquela graças à qual identificamos um rio como identidade, muito embora a água que o constitui se remove sem cessar.A continuidade Carmica é o rio da acção que constitui o indivíduo e o identifica. Não se trata da transmigração de um ego eterno que salta de uma existência para outra. Gautama Buda refuta categóricamente o falso ponto de vista que quer perpetuar o eu e eternizá-lo. Há apenas continuidade de Karma. Assim o Renascimento não tem o sentido da imortalidade, mas apenas o de uma simples continuidade dentro da mutabilidade. Quando uma chama acende uma outra, nada transmigrou, é o exemplo de uma chama, aquele que melhor se presta para compreensão da reencarnação.

III TERCEIRA NOBRE VERDADE

“NIRODHA SATYA” Cessação do sofrimento da existência.

A Terceira Nobre Verdade é a completa cessação do sofrimento, ou extinção da desarmonia entre o EU idealizado e o mundo real. É conseguida pela total eliminação de todas as formas de desejo, levando ao Nibbana, mais conhecido por, Nirvana. Nir em sânscrito, significa “não” e vana significa “cordão”; assim, Nirvana pode ser traduzido literalmente como “não estar preso”.

Ou “estar liberto”. Alcançar o Nirvana, é alcançar a Unidade, o Todo, é a fusão com o absoluto, reencontro com Deus

O Nirvana pode ser alcançado de várias formas:

Por meio da meditação profunda na harmonia interna e Universal, pela frequência cada vez maior de sentir o verbo em nós, pela visão de Luz Divina interna, pelo reencontro do homem consigo mesmo e pela conduta em sociedade, decorrente das suas experiências.

Na doutrina budista alcança-se o Nirvana, pelos seguintes meios:

O Nirvana é realizado pela completa renúncia; não simplesmente renúncia aos objectos exteriores, mas, na realidade pela renúncia interna às ligações como mundo exterior.

Deve-se notar que a mera cessação do sofrimento, ou mera destruição do desejo não é o Nirvana. Se assim fosse, equivaleria á aniquilação, porém nada é aniquilado. O fogo se apaga porque não há mais combustível para alimentá-lo. É a aniquilação da ilusão do eu pessoal de separatividade, do total dos apegos, afeições para consigo mesmo, apetites de sede de desejos o que envolve e suporta essa ilusão; são todos destruídos juntamente com a ignorância, o ódio, a ambição, a luxúria e o mal que os acompanha. Eles morrem por falta do nutrimento que os sustenta para nunca mais retornar.

Os ensinamentos do Mestre foram explicados de diversos modos, empregando palavras diferentes de acordo com o desenvolvimento e capacidade de assimilação das pessoas. Assim encontramos as várias definições e descrições do Nirvana nos ensinamentos de Buda.

“A cessação da continuidade e do vir a ser é Nirvana ”

“O abandono e a destruição do desejo e de avidez pelos seus Cinco Agregados do apego é a cessação da dukkha”.

O que é o Absoluto (incondicionado)? É a extinção de todas as formas do desejo, do Ódio, da ilusão. – Desta forma Gautama Buda defeniu o Absoluto como Nirvana.

Frequentemente, Buda emprega, sem equívoco, a palavra Verdade em lugar de Nirvana   ” Ensinarei a Verdade e o caminho que leva à Verdade “.

Onde, pois, está o Nirvana, esse algo que é de facto o Real, a Verdade que libera e apazigua o Coração, conforme nos afirmam as citações de Gautama Buda?

Se em parte alguma encontramos o Real e se analisando as individualizações físicas e biológicas e o nosso próprio Eu, não encontramos nada permanente, onde encontrar o Real? O que nos impede de conhecê-lo é a nossa concepção errada face à pluralidade do mundo das formas, onde a nossa mente se perde, perdendo assim a unidade do Universo; considerando-o como multiplicidade de coisas reais, nós damos realidade a coisas que, em si mesmos, não a têm, e essa confusão se estende à ilusão de um eu real e eterno.

Só quando compreendemos que tudo no Universo é impermanente, efémero, uma cadeia de causas e efeitos sem realidade substancial, e que tudo aquilo que julgamos ser eu é apenas um agregado impermanente, efémero, não-real, só então a compreensão da Unidade do Todo se dá e com isso, o dissipar da ilusão.

A verdade não se liga a nenhum Eu; é universal e conduz à equanimidade. Assim interpretamos o Nirvana como a aniquilação da ilusão da falsa ideia de um “eu pessoal “, onde toda a noção de consciência de individualidade cessa.

Libertação, liberdade absoluta, isto é, liberdade de estar livre da ignorância, do desejo, do ódio e de todos os conceitos de dualidade, relatividade, tempo e espaço. “O dissipar da ilusão do eu é o Despertar completo, é a permanente Vigilância ou Plena Atenção”.

Não conhecemos a Verdade, porque não somos vigilantes e, por isso, não nos conhecemos a nós mesmos. Nossa acção é sempre uma “reacção” em função dos desejos mais ou menos inconscientes que dão conteúdo ao ser. O dissipar da ilusão é um estado de permanente vigilância, em função da qual há autoconhecimento e dissolução do determinismo Kármico.

Nirvana é estado de permanente Plena Atenção, é o fim dos renascimentos.

O Nirvana é “alcançar o céu”, do nosso ponto de vista ocidental, não sendo necessário esperar a morte para realizá-lo.

O Nirvana não pode ser descrito porque não há nada em nossa experiência mundana com o qual possa ser comparado, e nada que possa ser usado para fornecer uma analogia satisfatória



RENASCIMENTO – JATI

Teoria budista da reencarnação

O vir a ser ou reprodutividade do karma conduz-nos necessariamente ao problema do renascimento, isto é, para uma nova existência; é simbolizado por uma mulher dando à luz uma criança.

É, de facto, um problema e no entanto, não existe ser algum para renascer. É novamente o conceito errôneo de uma identidade própria que dá origem ao problema. O simples facto de se fazer a pergunta  ” Quem é que renasce?” é baseado na ignorância do processo de uma não-identidade própria do karma. O karma não é uma entidade que passa de uma vida para a outra, como faz um visitante que vai de casa em casa; mas o karma é a própria vida, visto que a vida é o produto do karma.

A verdadeira origem da vida não é o acto sexual entre um macho e uma fêmea; este somente dá a oportunidade para que um karma fim de vida continue numa nova existência. Assim como o pavio que, embora mergulhado e encharcado de óleo, não dará luz, a não ser que uma chama entre em contacto com ele; assim como objectos visíveis, apesar de entrarem em foco, não serão vistos pelo olho se não houver consciência; assim também “é da conjunção das três coisas que se dá a concepção. Havendo o coito, durante o período fértil da mãe, mas não havendo a necessidade da geração, então não se dará à concepção “.

Esta necessidade de geração, ou melhor, re-geração, refere-se àquela energia karmica que, em sua tendência natural do desejo, procura adquirir uma nova matéria como sustento em seu processo de acção.

Quando um ser nasce, ele não é crido, nem meramente perpetuado por seus pais, mas é um produto da acção do passado. Este acção do passado. Esta acção (karma) como vontade (cetana)

Constituiu certas tendências (samkhara), inclinações e repulsões, gostos e aversões; um carácter que devido ao desejo pela vida, procurará expressar-se novamente; isto é a evolução do renascimemto.

O renascimento terá lugar onde estas tendências kármicas encontrarem as melhores condições de expressão, o solo mais apropriado para criar raízes novas e a atmosfera mais generosa para produzir novos frutos. Isto poderia ser chamado de atracção ou simpatia das forças kármicas.

Se acontecer que o útero materno, tendo há pouco recebido o sémen masculino, estar predisposto física e kármicamente, poderá haver uma concepção resultando no nascimento de uma criança portadora de algumas ou muitas das características de seus pais, não, porque as herdou, mas devido à simpatia ou atracção de tendências kármicas semelhantes. Assim como o relâmpago, numa tempestade, nunca mergulhará nas águas de um poço, mas procurará cair no metal do para-raios de uma torre, porque aí encontra a sua maior atracção, assim as tendências de um carácter serão atraídas pela afinidade ou simpatia com aquelas tendências que lhe estão mais próximas se no momento do acto sexual, não há um karma atraído para renascer através desses pais, este acto permanece infrutífero.

Enquanto a teoria da hereditariedade não explica porque nem todas as características do pai e da mãe são herdadas, o budismo explica que o filho não herda as suas características do pai ou da mãe mas trás as suas próprias heranças; ou melhor, trás consigo o Karma na hora da concepção. É este terceiro factor o Karma, que decide, ao lado do espermatozóide e do óvulo, a concepção no renascimento. Assim, o Karma é a verdadeira “selecção natural” que luta pela existência, resultando não da sobrevivência do mais apto, mas do maior desejo que se reproduzirá em bom ou mau, até que o discernimento destrua aquela força reprodutiva, conduzindo-a a não renascer mais.

IV QUARTA NOBRE VERDADE

NAGGA  SATYA Caminho  que  leva   à  cessação  do  sofrimento

Caminho ÓCTUPLO

A Quarta Nobre Verdade é a que indica o Caminho que leva à extinção do sofrimento, conseguido pela trilha da Senda Óctupla, também conhecida como “Caminho do Meio”, porque evita os dois extremos: primeiro o da auto-indulgência, conforto e prazer físico que traz apego às paixões (é próprio dos indivíduos que procuram a felicidade através dos prazeres dos sentidos); segundo, o da auto tortura, auto mortificação, ou sofrimento físico que traz perturbação à mente: é uma psicose, mediante diferentes formas de ascetismo.

Nem ascetismo, nem o prazer permite realizar o Caminho. É preciso abandonar esses dois extremos e seguir o Caminho do Meio.

Gautama Buda, tendo experimentado esses dois extremos e reconhecendo a inutilidade deles, descobriu por experiência própria o Caminho do Meio que condensa o espírito da moral budista, conhecido como Caminho Óctuplo, e consiste dos seguintes princípios:

Estes oito factores estão entrelaçados entre si e cada um contribui para o desenvolvimento dos outros. São estas as poderosas forças morais e mentais que, reunidas, nos ajudam a nos libertar do desejo.

A finalidade destes oito factores é facilitar o aperfeiçoamento dos três elementos essenciais no treinamento da disciplina budista, que são:

  1. Conduta ética: Moralidade (Sila)
  2. Disciplina mental: Concentração e Meditação (Samadhi)
  3. Introspecção: Sabedoria (Panna)

1. CONDUTA ÉTICA: Moralidade (sila)

É baseada na ampla concepção de amor universal e compaixão para com todos os seres; não somente os humanos, mas todos os seres vivos.

Segundo o budismo, para que um ser humano seja perfeito, deve cultivar igualmente duas qualidades: compaixão e sabedoria, que devem permanecer inseparáveis. A compaixão inclui o amor no sentido universal (não condicionado a símbolos, conceitos, etc.), a caridade, a tolerância, assim como todas as nobres qualidades do coração (lado afectivo); ao passo que a sabedoria representa as qualidades da mente. Se um indivíduo desenvolve somente o seu lado afectivo e descuida o lado mental, será um tolo de bom coração, se ao contrário, este mesmo indivíduo desenvolve o seu lado mental e descuida o seu lado afectivo, é provável que se torne um intelectual insensível, frio, sem nenhum sentimento para com os demais.

Desta forma, estes dois homens nunca alcançarão a perfeição. A conduta ética, baseada no amor e na compaixão, consta de três factores do Caminho Óctuplo:

1ª A PALAVRA CORRECTA é dirigida pelo pensamento correcto e acção correcta.

” Melhor que mil palavras sem sentido, é uma só palavra sensata, capaz de trazer paz aquela que a ouve.”

2ª ACÇÃO CORRECTA

” Aquele que destrói uma existência, que mente, que rouba, que cobiça e se entrega ao exagero do consumo de álcool e tóxicos, este, já neste mundo, está destruído.”

3ª MEIO DE VIDA CORRECTO

” O meio de vida correcto é dirigido pelo pensamento correcto. Quaisquer sistemas de moral e ética estão enquadrados nesses três aspectos: palavra correcta, acção correcta e meio de vida correcto. Sem esses três factores, nenhum desenvolvimento espiritual será possível.”

2. DISCIPLINA MENTAL (Samadhi)

Compreende os três seguintes factores do Caminho Óctuplo: Esforço Correcto, Plena Atenção e Concentração Correcta (nºs 4, 5, 6), por meio dos quais se alcança o desenvolvimento mental e a visão interior.

4ª ESFORÇO CORRECTO consta do seguinte:

Esforço de evitar e destruir os pensamentos negativos já existentes.Inércia vontade de impedir ou superar o aparecimento de pensamentos nocivos.

Fazer surgir pensamentos bons e sadios ainda não existentes.

Manter, cultivar e desenvolver, até à perfeição, os pensamentos bons e sadios já existentes.

5ª PLENA ATENÇÃO CORRECTA, ou Vigilância Correcta, consiste:

Numa atenção vigilante com tomada de Consciência nas actividades do corpo – kaya -, nas sensações -vedana -, nos diferentes estados da mente – citta – (nas ideias, pensamentos, etc.), e na investigação da Doutrina – Dhamma (verdade sobre o ser).

A plena Atenção Mental Correcta é necessária para desenvolver a palavra correcta, a acção correcta e o meio de vida correcto é necessária A Plena Atenção Mental.

Quanto às sensações, é necessário ter clara consciência de todas as suas formas: agradáveis, desagradáveis e indiferentes; de como surgem, se desenvolvem e desaparecem.

No que se refere aos diferentes estados da mente, deve-se estar atento e analisar todos os movimentos mentais: se neles estão presentes o ódio, ou não, a cobiça, ou não; se eles se deixam levar por uma ilusão, ou não, se a mente está distraída, ou atenta, e estar consciente de como surgem e desaparecem. Enfim, quanto às ideias, pensamentos e concepções das coisas, devemos distinguir sua natureza, saber como surgem, se desenvolvem e desaparecem, como são suprimidos ou destruídos, e assim sucessivamente.

6ª CONCENTRAÇÃO CORRECTA é a condição indispensável para todo e qualquer desenvolvimento espiritual. Qualquer religião ou prática, sem concentração, torna-se frágil e, na oração, as palavras tornam-se inúteis. Quanta mais concentração nas palavras de uma oração, mais poderosa ela se torna. A oração feita desta forma é um tipo de meditação.

O poder dos raios solares em todas as direcções torna-se maior quando concentrados num ponto por uma lente. Da mesma maneira nossa mente está constantemente dispersa; quando concentrada num objectivo único, ela torna-se poderosa e com isso desenvolve a sabedoria interior. A Concentração Correcta é o terceiro e último factor da disciplina mental – samadhi estado em que o indivíduo é levado à abstracção de si mesmo pelo treino da meditação nas quatro etapas de dhyana (contemplação).

Na primeira etapa de dhyana são afastados os desejos obsessivos, má vontade, confusão, agitação e dúvida céptica. Mas estão presentes os sentimentos de alegria, de felicidade, assim como certa actividade mental.

Na segunda etapa, desaparecem todas as actividades mentais e desenvolvem-se, a tranquilidade e a fixação unificadora da mente: no entanto os sentimentos de alegria e felicidade ainda estão conservados.

Na terceira etapa, o sentimento de alegria, que é uma sensação activa, desaparece também, persistindo ainda uma disposição de felicidade com equanimidade consciente.

Finalmente, na quarta etapa de dhyana, toda sensação, mesmo de felicidade ou infelicidade, de alegria ou pesar, desaparece, restando somente a equanimidade e a lucidez mental.

Desta forma a mente fica disciplinada e desenvolvida por meio do Esforço Correcto, Atenção Correcta e Concentração Correcta.

MEDITAÇÃO OU DESENVOLVIMENTO MENTAL

A meditação no Budismo, tem a finalidade de reunir o indivíduo à realidade que foi perdida de vista devido à nossa ignorância em basear a felicidade, pela qual ansiamos, onde ela não é encontrada, nas sombras e ilusões da nossa própria mente.

Falando da crescente influência do Budismo no Ocidente, o Dr. Graham Howe disse: ” No decorrer dos trabalhos de numerosos psicólogos, descobriu-se que estamos muito próximos do Budismo sem o saber; basta estarmos um pouco esclarecidos sobre a filosofia budista, para compreender que há 2.500 anos sabiam mais sobre psicologia moderna do que se possa imaginar… Desta forma, estamos redescobrindo a antiga sabedoria do Oriente.”

Desde centenas de gerações estamos condicionados a “pensar” e a atribuir ao intelecto o centro das conquistas humanas, mas é evidente que a decorrência de todo este passado acumulado, catalogado e esmiuçado através da engrenagem puramente intelectual, mostra agora, principalmente nos tempos actuais, a completa falência quanto à solução dos problemas humanos fundamentais como o amor, a paz, o sexo, o ódio e as guerras. O conhecimento adquirido pelo acúmulo da memória, da cultura, da especialidade e aprimoramento técnico nada mais é do que a captação superficial do assunto, do facto, da situação, do problema.

Vivemos dominados pelo apego e aversão até mesmo aos mais insignificantes objectos, assim como damos um valor absoluto às mais relativas situações. Vivemos egoisticamente e por consequência, dominados pela má vontade e ressentimento quando vemos contrariados os nossos menores interesses. Sentimos ódio, ciúme, ansiedade, sem que tenhamos consciência

de que a nossa ignorância faz deste modo um muro de lamentações. São dessas impurezas da mente que surgem todos os problemas humanos.

No Budismo a compreensão verdadeiramente profunda é conhecida pelo nome de “penetração” e consiste em ver as coisas na sua verdadeira natureza, sem nome nem rótulos, sem conceitos. Essa penetração somente é possível quando a mente por controlada e a visão interior for desenvolvida ao máximo por meio da meditação. Sem meditação não existe Correcta Compreensão.

O objectivo principal da meditação consiste na contemplação ou observação pura (vigilância);

Compreender a vida é as coisas como realmente são, sem apego, se forem favoráveis ou agradáveis ou desfavoráveis; enfim sem condicionamentos, que são entraves à observação pura.

Através da prática da meditação, podemos desenvolver nossa mente, objectivando a purificação e a compreensão da Verdade, e alcançar perfeição em vida. É a acção vigilante da meditação que permite ao homem libertar-se da influência da realidade dos factos e das coisas penetrar na verdadeira natureza da existência, isto é, compreender que ela é impermanente, sem substâncias e, portanto, capaz de causar sofrimento àquele que, na sua ignorância, se apega às coisas, aos seres e à própria vida.

A meditação tem por fim libertar a mente do jorrar contínuo dos pensamentos, de toda a espécie de impurezas e perturbações, tais como: indolência, agitações, dúvidas, má vontade, ressentimentos, ódio, desejos obsessivos de sensualidade, etc.; cultivar qualidades, tais como: a concentração, a atenção, a vontade, a energia, a faculdade de analisar, a confiança, a alegria, a calma, etc.; e finalmente, levar o indivíduo à mais alta sabedoria de ver as coisas tais como elas são, podendo alcançar a percepção da Realidade Última, O NIRVANA, que só é atingido através da compreensão supra-racional, ou visão interior, da qual qualquer discrição transcende  as limitações do intelecto discursivo.

III – INTROSPECÇÃO (Panna)

7ª PENSAMENTO CORRECTO, ou pensamento puro, é o correcto pensar com sabedoria, com equanimidade e contemplação. É o pensamento dirigido no sentido da renúncia, do desapego, compaixão do amor universal, da não-violência, estendendo-se a todos os seres vivos. Desenvolvendo estas qualidades, eliminamos todo pensamento egoísta de apego, má vontade, ódio, violência ou crueldade, seja de ordem individual, social ou política, que é fruto da ignorância. O pensamento correcto não aparece quando existem pensamentos ligados aos apegos dos sentidos.

Do nosso pensamento só colhemos bons e maus frutos.

8ª CORRECTA COMPREENSÃO é a compreensão que, pela contemplação pura, permite reconhecer e penetrar na realidade da existência da insatisfação universal, criada pela desarmonia entre os seres e o mundo exterior.

No Budismo há duas formas de compreensão: a primeira forma de compreensão é a do conhecimento, memória acumulada, captação intelectual de um assunto, segundo certos dados, etc.

É designada pelo nome “conhecer segundo….”- Anubodha – que é do conhecimento pelos conceitos; não é muito profunda. A compreensão verdadeiramente profunda denomina-se “penetração” – Patirodha – esta penetração só é possível quando a mente está livre de toda impureza e quando completamente desenvolvida pela prática da meditação.


As quatro nobres verdades explicam o método pelo qual podemos realizar a Realidade Última.

Na Primeira Nobre Verdade, a natureza da vida, seu sofrimento, suas tristezas e alegrias, sua insatisfatoriedade, sua impermanência e sua insubstancialidade; devemos compreendê-la como fato claro e completo.

Quanto à Segunda Nobre Verdade, origem de dukkha, que é o desejo acompanhado de todas as paixões, vilezas e impurezas, a simples compreensão não é suficiente; torna-se necessário afastar, eliminar, destruir a origem desse desejo.

Quanto à Terceira Nobre Verdade, que é a cessação de dukkha; o Nirvana, a Verdade Absoluta, a Realidade Última, precisamos compreendê-la e realizá-la.

E em relação à Quarta Nobre Verdade, que é o Caminho que conduz à realização da Libertação, ou experiência do Nirvana, apenas o conhecimento do Caminho, por mais completo que seja é insuficiente.

Torna-se necessário segui-lo e manter-se nele.


Assim termina uma compilação sobre a doutrina do

Senhor Buda, esperando que esta sirva para a sublimação

das nossas almas e a consequente chegada até ao Pai.